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TEMA II. INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO DIGITAL E EM REDE


Educação Digital e em Rede | Ecossistemas de Educação Digital e em Rede

O que é um Ecossistema de Educação Digital, como se pode desenvolver, quem são os seus "habitantes", que ambientes podem ser criados, que configurações pode assumir?


Assim, um Ecossistema de Educação Digital é um conjunto integrado de elementos, humanos e não-humanos, organizados de forma a promover aprendizagens de qualidade em ambientes físicos, digitais e virtuais que se complementam e se potenciam mutuamente. De acordo com Moreira & Horta (2020, p. 25), num ecossistema onde os fatores bióticos são as comunidades de aprendizagem, os professores, os alunos e os conteúdos representam a parte viva do sistema (espécies humana e digital) - e as tecnologias digitais, que representam os fatores abióticos, as partes não vivas do ecossistema. Assim, os habitantes de um ecossistema digital, são os Docentes, Professores, Educadores e Pedagogos que desenham atividades e tutorizam processos, mediando a interação entre os atores humanos e os atores não humanos (as tecnologias); os Discentes, Alunos que são os protagonistas das suas aprendizagem e que participam ativamente em múltiplos ambientes; e por fim os gestores e técnicos, que garantem o funcionamento das infraestruturas, que proporcionam uma formação contínua e enquadramento legal. Além disso, neste ecossistema digital também habitam os chamados atores não-humanos que são as plataformas e softwares (LMS, videoconferência, realidade aumentada), que atuam como “ambientes” e “atores” na rede de comunicação; e os vários recursos digitais (objetos de aprendizagem, simuladores, vídeos) que permitem maior personalização adaptada e ajustada ao ator humano, bem como proporciona sempre um controlo da sua atuação.Além disso, a Educação Digital não se resume ao uso de hardwares, softwares e redes de comunicação na educação, nem tão pouco se restringe ao desenvolvimento do pensamento computacional, mas deve ser entendida como um movimento, um ecossistema entre atores humanos e não humanos que coexistem e estão em comunicação direta, não mediada pela representação, em que nada se passa com um que não afete o outro. Na perspectiva do humano, resulta em apropriação, no sentido de atribuição de significado e o desenvolvimento de competências específicas, vinculadas aos processos de ensinar e de aprender em contexto de transformação digital (Moreira & Schelmmer, 2020, p. 22).


Por sua vez, a Educação Digital é compreendida, então, por processos de ensino e de aprendizagem que se constituem no coengendramento com diferentes tecnologias digitais, que podem ou não estar interligadas por redes de comunicação. Nesse contexto, podemos pensar num contínuum da Educação Digital que compreende desde processos de ensino e aprendizagem enriquecidos por tecnologias digitais e/ou redes de comunicação, até o desenvolvimento de uma educação totalmente online e digital, tendo variabilidade na frequência e na intensidade tanto de tecnologias digitais, quanto de redes de comunicação (ibid.). 



De acordo com Moreira & & Schelmmer (2020, p. 8), a tecnologia atua como um ambiente promotor de redes de aprendizagem e conhecimento. O foco precisa estar nas condições que afetam a apropriação tecnológica, importando consigo um significativo incremento do sentido e da qualidade na educação.Na realidade, a tecnologia sozinha não muda as práticas pedagógicas, uma vez que para maximizar os benefícios da inovação tecnológica, principalmente as que se referem as tecnologias digitais, importa alterar a forma como se pensa a educação. Não é uma utopia considerar as tecnologias como uma oportunidade de inovação, de integração, inclusão, flexibilização, abertura, personalização de percursos de aprendizagem, mas esta realidade exige uma mudança de paradigma.
 
A pertinência do conceito Onlife proposto por (FIORIDI, 2015 apud Moreira & Schelmmer, 2020, p. 23), defende o fim da distinção entre o offline e o online, ao chegar-se à conclusão que as tecnologias digitais e as redes de comunicação não podem ser encaradas como meras ferramentas, instrumento, recurso, apoio, mas forças ambientais que, cada vez mais, afetam a nossa auto-conceção (quem somos), as nossas interações (como socializamos), como ensinamos e como aprendemos, enfim, a nossa concepção de realidade e as nossas interações com a realidade. Sendo que, em cada um dos casos, as tecnologias digitais possuem significado em termos éticos, legais e políticos provocando o enfraquecimento da distinção entre realidade e virtualidade; o enfraquecimento da distinção entre humano, máquina e natureza; a reversão de uma situação de escassez para abundância de informação; e a passagem da primazia das propriedades, individualidades e relações binárias para a primazia das conectividades, processos e redes. Em sequência, a compreensão dessa realidade hiperconectada, fruto da hibridização do mundo biológico, do mundo físico e do mundo digital, exige um repensar das epistemologias e teorias, as quais não conseguem abranger a sua complexidade. 
 
Por isso, Schlemmer & Kersch (2020, p. 131) propõem uma Educação OnLIFE, que, para além de ser híbrida e multimodal, é transubstanciada, inventiva e cibricidadã, ligada, conectada (On) na vida (LIFE), a partir de problematizações que emergem do tempo/mundo presente. Enquanto reticular, pressupõe a não centralidade, seja ela no conteúdo, no professor ou no estudante, o que aponta para a necessidade de pedagogias conectivas, em rede. Uma Educação OnLIFE pressupõe ainda a superação do dualismo online e offline, propiciando a constituição de ecossistemas conectivos de inovação na educação, instigando um habitar atópico que se desenvolve numa econectografia, conectando inteligências diversas.
 
De igual modo é defendido por Schlemmer & Palagi (2020, p. 142), acrescentando que o conceito de Educação OnLIFE coloca em evidência a necessidade dos processos de ensino e de aprendizagem habitarem novos territórios, superando tanto as teorias instrucionistas, cuja centralidade está no conteúdo e no professor, o que resulta numa pedagogia diretiva; quanto à teoria da ação, centrada no sujeito, o que resulta numa pedagogia ativa e, consequentemente, em metodologias e práticas também conhecidas como ativas.

Referências bibliográficas
 
Moreira, J. A., & Horta, M. J. (2020). Educação e ambientes híbridos de aprendizagem: Um processo de inovação sustentada. Revista UFG, 20, e66027. https://doi.org/10.5216/revufg.v20.66027 

Moreira, J. A., Schlemmer, E., & Di Felice, M. (Orgs.). (2024). Desafios contemporâneos e a emergência da educação OnLIFE (Coleção Educação a Distância e eLearning, nº 21). Universidade Aberta. DOI: https://doi.org/10.34627/uab.ead.21




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